domingo, setembro 10, 2006

Capítulo 3 – Pra começar

Na realidade, não é tão importante assim o contexto político descrito no capítulo anterior, pois a história começará com toda a cidade pegando fogo, e no incêndio morrerão Chamado e a maioria das pessoas que realmente se importavam com a situação governamental de Seja Feliz, Pequeno Irmão. A cidade desaparecerá, e ninguém jamais pensará em reconstruí-la – era de fato muito insignificante.
Obviamente nenhum dos jovens dos quais falei no último capítulo terá o mesmo trágico destino, afinal é para isso que eu os criei.
Perdão acordará com o cheiro da fumaça e fugirá salvando Farsa.
Aparecimento acordará porque sempre acorda no mesmo ponto de seu sonho, e conseguirá sair da cidade de modo razoavelmente calmo.
Verdadeiro demorará para despertar, e não conseguirá deixar sua casa sem algumas sérias queimaduras.
O monge sem nome tem o sono leve, e logo perceberá o perigo – correrá, no entanto, o risco de morrer no incêndio para ter o prazer de ver seu companheiro de quarto queimando.
Traição quem sabe apagará o fogo de seus aposentos com suas lágrimas infindas.
O vulto armado jogar-se-á no rio.
Amarelo assistirá sem nenhuma tristeza à destruição de seu mural pelo fogo. Saltará da cama como se para um belo dia de feriado, deslizará dançante para fora da casa.
Resistível acordará de um sonho estranho, perceberá o perigo e fugindo errará a porta e entrará na dispensa escura, causando a queda de diversos mantimentos sobre sua cabeça. Voltará atrás e acertará a porta, para fugir ao incêndio andará muitas vezes nos círculos das ruas da cidade, sempre voltando à frente da sua casa sem saber por quê.
A chuva apagará as pequenas chamas restantes. Se cair.
Os jovens ficarão acordados, cada um em um canto da cidade, cada um o quanto agüentar, lamentando perdas e mortes, buscando acordar da realidade terrível, chorando para não ter de lidar racionalmente com a situação. Quando dormirem, não se lembrarão de colocar a cabeça para a direção própria.
Mas
Aparecimento continuará sonhando seu mesmo sonho de sempre, Amarelo imaginará seu mural, Traição chorará ainda, o monge continuará sem nome, o vulto agarrado à faca, Perdão cobrindo Farsa, Verdadeiro terá ainda o corpo dolorido, Resistível dormirá sentado sobre as ruínas de sua casa, da qual não conseguiu se afastar – devido a sua falta de senso de direção.

Acordarão logo mais, e então terão de se encontrar de alguma forma para que a história possa prosseguir, e não poderia ser outra – em se tratando de jovens que acabaram de acordar depois de verem arder toda a sua vida anterior – que a busca por comida. Irão ao grande mercado da cidade (um exagero, na verdade deveria se chamar médio mercado da cidade, mas creio que todos possamos entender o por quê de não lhe nomearem assim). Encontrarão tudo queimado, suspeitarão de que os outros jovens que estão por ali roubaram para si toda a comida. O vulto – que à luz do dia não é mais um vulto, mas um jovem alto, de cabelos escuros que vão até seu ombro largo, de nariz pontudo e olhar desconfiado – preparará sua faca para uma eventual necessidade. A fumaça ainda traz lágrimas aos olhos.
Nenhum abordará o outro, nenhum tentará qualquer forma de comunicação nesse momento primeiro. Ficarão cada um consigo mesmo (exceto
Perdão e Farsa, ou talvez mesmo eles), comendo o que de menos carbonizado puderem encontrar, descansando mais um pouco, incapazes de de fato pensar no que significava a destruição da cidade para si. Amarelo usará, talvez, o carvão para pintar em seu corpo imagens da perda – ou do ganho do Nada. O monge realizará maquinalmente os rituais que aprendeu.
No entanto eles não deixarão o mercado destruído. A noite cairá e cada um encontrará um lugar para se acomodar. Só
Resistível ficará acordado novamente até o nascer do sol, brincando com as cinzas como se fossem fantasmas – fantasmas brincalhões ou furiosos ou melancólicos, que não puderam entrar no paraíso mas não estão nem aí.

6 Comments:

Blogger Ozzer Seimsisk said...

fico feliz que você não tenha continuado uma história com movimentos políticos. ia ser chato...

10/9/06 16:20  
Blogger Artur said...

^^ Nunca foi a intenção. Concordo que seria chato. Estou num momento muito pouco político (no sentido pequeno da palavra político) da minha vida.

10/9/06 16:24  
Blogger Utak said...

Oh!
que história legal
continue-a!

10/9/06 16:41  
Blogger Pioux's said...

Vai demorar até eu lembrar de todos os personagens!
tem sempre alguns q eu lembro mais facil e outros q eu só esqueço!

12/9/06 00:40  
Blogger Artur said...

Eu sei, é assim mesmo, mas pra ajudar um pouco eu criei aqueles links no sidebar =] com o tempo quem sabe eu até os atualize, upgrade, ilustre etc.

12/9/06 18:22  
Blogger Pioux's said...

huhum
q master
soh agora q eu reparei hehehe =) verei ^^

14/9/06 23:11  

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